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Busto de Lamarca, o Capitão da Guerrilha de volta ao lugar de onde foi retirado

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O infame Ato Institucional de número 5 (AI5) que endureceu a repressão na Ditadura Militar nem tinha completado 02 (dois) meses quando, no dia 24 de janeiro de 1969, o capitão Carlos Lamarca deixou o 4º Regimento de Infantaria de Quitaúna, em Osasco, São Paulo, a bordo de uma kombi com 63 fuzis FAL, dez submetralhadoras INA e munição.

Tudo subtraído do Exército para alimentar a luta armada contra a tirania militar. Na tarde daquela sexta-feira, o carioca de 31 anos estava desertando e, ao mesmo tempo, iniciando de forma ousada a sua curta e intensa carreira na guerrilha. A partir de então, Lamarca assumiria o comando do grupo Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e se tornaria o principal inimigo dos generais.

Para relembrar o assassinato há 50 (17 de setembro de 1971) anos de Carlos Lamarca, no interior da Bahia, por tropas do Exército, representantes da esquerda inauguraram na sexta-feira passada, 17 de setembro um busto do guerrilheiro Carlos Lamarca. Em 2017, o então secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Ricardo Salles, decidiu remover uma homenagem parecida. O novo busto foi erguido no mesmo local, um parque em Cajati (SP).

A historiadora Juliana Marques do Nascimento, pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF) disse à BBC de Londres: “Lamarca foi completamente avesso ao Golpe Militar de 1964 e demonstrava profundo incômodo com o cenário político e arquitetou uma organização mais atuante, tanto na oposição ao novo regime, quanto na luta pela construção do socialismo no Brasil”.

Em agosto de 2017, durante visita ao Parque de Cajati, Salles determinou que a estátua, seu pedestal e um painel contendo fotografias e informações acerca da passagem de Lamarca pelo Vale do Ribeira fossem retirados do local. Os objetos estavam ali desde 2012, por decisão do Conselho do Parque. Um dos fundadores do Movimento Endireita Brasil, Ricardo Salles (desastrado ex-ministro de Meio Ambiente), ao se deparar com o busto disse que era “inadmissível erguer com dinheiro público monumento a um guerrilheiro, desertor e responsável pela morte de inúmeras pessoas”.

Lamarca, o Capitão da Guerrilha, como ficou conhecido na história, registrada em livros e filmes, foi considerado desertor, acusado de assaltos a bancos e de comandar o sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, no Rio de Janeiro, em 1970, em troca da libertação de 70 presos políticos (entre eles Fernando Gabeira), ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Militar e cassado pelo regime.

Curiosamente, a trajetória de Lamarca marcou a adolescência de alguém que também se tornaria capitão do Exército e enveredaria pela política: o atual presidente Jair Bolsonaro. Não é só o tempo de uma geração que separa ambos. Essas figuras estão em pontos diametralmente opostos do espectro político e ideológico: se Lamarca, feito guerrilheiro contra a ditadura, tornou-se um ícone da esquerda revolucionária, Bolsonaro representa o conservadorismo da extrema-direita.

De forma reiterada ao longo de sua carreira política, Bolsonaro já repetiu que teria se impressionado com os relatos da caçada, pelos militares a serviço da repressão, ao guerrilheiro Lamarca e seus companheiros. E que isso teria influenciado inclusive a sua vocação militar. Mas, existe uma diferença de patente: em 2007, a Comissão da Verdade elevou Lamarca a coronel do Exército. Bolsonaro foi “saído” do Exército, como capitão, aos 33 anos, mesma idade em que Lamarca foi assassinado.

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